Instrumentista cultuado, compositor e cantor celebra 40 anos de carreira com mais de 90 discos gravados e troca a guitarra pelo violão e pelo teclado para imergir na vulnerabilidade de criações íntimas e imperfeitas, em onze canções compostas e registradas pelo celular, no momento de sua criação, em seu sofá, durante a pandemia da COVID-19.
Eleito um dos 100 artistas mais importantes da história da música brasileira de todos os tempos pela revista Rolling Stone, Edgard Scandurra afasta medalhas e troféus na estante, colecionados em 40 anos de carreira musical, e libera espaço para expor a vulnerabilidade de canções perfeitamente imperfeitas. Nas onze músicas de “Jogo das Semelhanças – Gravações de Celular”, com lançamento marcado para o dia 27 de novembro, o músico liberta emoções e sua cultuada guitarra da correia para abraçar o violão, instrumento que foi seu brinquedo preferido por toda a infância. Em três faixas, lança mão ainda de um teclado Thomas Organ de dois andares, comprado recentemente com apenas duas teclas em funcionamento e cujo conserto custou dez vezes seu preço.
Habituado aos deslocamentos frenéticos exigidos por sua profissão, foi atingido por certeira inspiração na reconexão com seu ambiente doméstico, durante a quarentena da COVID-19.
O processo de composição das novas músicas, realizado entre março e setembro de 2020, está embebido da espontaneidade genuína de compartilhar momentos íntimos em casa. Como quem se abre com uma pessoa próxima e querida, sentava no sofá, acertava o ângulo da câmera do celular e começava a tocar. Cada canção tem uma motivação emocional.
Nos últimos seis meses, o violão de cordas de nylon da marca nacional Rozzini, que vive com Scandurra há menos de um ano, e o teclado revitalizado revelaram-se assíduos e honrados confidentes. Juntos elaboraram lutos, expuseram fragilidades e transmutaram emoções, num processo intenso de aproximação.
Nessas conversas, Scandurra e os instrumentos falam com a alma e quem acompanhou as íntimas transmissões via Instagram, pode sentir esta vibração. Os encontros foram legendados por comentários empolgados e emocionados, do outro lado da tela, como os da jornalista Marília Gabriela, do compositor Chico César, e dos músicos Fernando Catatau e Roberto de Carvalho.
Com exceção de “Contente”, parceria composta há alguns anos com Juliana R e única faixa com letra do trabalho, todas as canções foram criadas no momento de suas execuções. “Senti que as músicas estavam muito interessantes nos vídeos, transpus para o áudio, levei para um estúdio e masterizamos.” Uma proposta ousada, segundo ele. “Quero buscar semelhanças. A proposta é expô-las para quem quiser encontrar. O mundo está tão polarizado, com erros evidenciados, que o desafio agora é buscar aquilo que nos une.
Com isso, senti a necessidade de dar um passo low tech num contexto em que as relações passam a ser mais mediadas pela tecnologia.”, revela Scandurra.
O trabalho, uma espécie de diário de memórias íntimas pandêmicas, abre com a mântrica e iluminada “Neninha”, que eterniza o laço de amor com a mãe, que intitula a música. Fã das composições do filho, Neninha o apoiou totalmente desde criança em seus projetos musicais e fez sua passagem durante a pandemia. Pelas fases do luto, segue “Morocco”, um improviso completo de atmosfera arábica e mágica criado num encontro de baixo e bateria eletrônica do teclado Thomas Organ.
No contexto da reclusão, as emoções alternam-se e chega o dia de “Devaneio dos 3 Erros”. Fruto de momento desesperador em que a pandemia, as notícias políticas do país e do mundo criam um sentimento desolador. As notas do violão são dedilhadas de modo intuitivo e técnico, como um desabafo, uma rajada musical, de alguém que mesmo em meio a um momento difícil, se propõe a seguir em frente de forma algo consciente e prática.
Os dias são iguais mas inevitavelmente vivemos o “Domingo”, quando nos deparamos com o término do fim de semana e a chegada de uma nova semana. Também inexorável é o primeiro dia útil da semana na quarentena. Para driblar a melancolia do calendário distópico, o artista concebe uma harmonia feliz para promover alento e inspiração às pessoas por meio do amor e respeito nas relações em “Segunda-feira”. Única canção com letra do projeto e também única composta antes da pandemia, “Contente” é uma parceria com cantora e compositora Juliana R.
Versos tristes, porém altivos, com a dignidade de quem sabe seu valor, inspirada nos tributos a música francesa.
Uma homenagem ao fiel companheiro, “Amigo Violão”, assim como “Devaneio”, apresenta-se como um tema estudado, porém, como as outras músicas, foi composta intuitivamente no momento de sua criação. Samba curto e rápido, “Samba do Apressado” traz um clima bem-humorado e ao mesmo tempo ansioso, experimentado por muitos nos ciclos emocionais deste momento histórico.
Os pausas para observar a casa inspiram “Crianças de Aphrodite”. O poster da banda “Aphrodite’s Child” adorna a parede acima de teclado de Scandurra. Uma de suas maiores influências harmônicas e melódicas, tanto pelos acordes de Vangelis, quanto pelos dotes vocais de Demis Roussos, ganhou sua homenagem.
O romantismo de “Paciência e Tolerância” nos transporta pela sonoridade do órgão elétrico ao universo de um filme em preto e branco da Nouvelle Vague e deságua na última faixa do álbum. “Tempus Insidiis”, que significa tempo de esperar em latim, ganhou batida do groovebox, velho companheiro de Scandurra no projeto eletrônico Benzina, e é também a única manifestação de guitarra e pedais do disco, como um rito de passagem, que une todas as ferramentas para expandir as perspectivas.
Foto por Rogério Alonso
Edgard Scandurra em 40 anos de carreira
Em quatro décadas de dedicação à música, Edgard Scandurra contribuiu para a cena musical brasileira com mais de 90 álbuns gravados, sendo oito discos solo ou em parceria, 53 como integrante de outros projetos e bandas e 32 participações e produções.
Da icônica banda paulistana IRA! ao projeto musical infantil Pequeno Cidadão, passando por Arnaldo Antunes, Paralamas do Sucesso, Cidadão Instigado, Marina Lima, Otto, Karina Buhr e As Mercenárias, o músico soma um registro musical potente.
Há 40 anos, um dos mais importantes e reconhecidos artistas brasileiros ganhava seu primeiro cachê, no valor de cem cruzeiros, no clube paulistano “A Ponto“, localizado na avenida Ibirapuera.“Eu tinha 15 anos e o cachê dava para comprar um refri, um bauru e ajudar meu pai a colocar gasolina!”, diverte-se um dos fundadores da banda IRA!. Mas antes deste rito que marcou sua profissionalização artística, a aptidão musical já estava inegavelmente instalada no DNA de Edgard Scandurra. Aos 5 anos de idade (!), assistia de perto os ensaios da banda do irmão que, nas horas vagas, deixava o pequeno tocar um pouco a guitarra e o violão. Aprendeu alguns acordes e transformou o violão em seu brinquedo favorito na infância e adolescência.
Em 1977, formou sua primeira banda, um trio chamado “Subúrbio” que revelou suas primeiras composições de músicas e letras. Depois de 5 anos, a carreira musical de Scandurra foi interrompida por uma convocação pelo serviço militar (experiência que inspiraria um dos maiores sucessos do IRA!, “Núcleo Base”). O Ira! foi um salto importante na carreira profissional, em 1981, e abriu espaço para colaborações em outros projetos da cena alternativa paulistana, como a banda feminina As Mercenárias, na qual tocou bateria de 1982 a 1984; e as bandas Smack e Cabine C, nas quais tocava guitarra.
A história de Edgard Scandurra se confunde com a história da música brasileira dos últimos 40 anos, com atuações no rock, na MPB, na música eletrônica e no underground. Fundador, guitarrista e compositor do IRA!, Scandurra é consagrado por seu estilo único em riffs e solos de guitarras. Canhoto que não inverte as cordas para tocar. Gravou a guitarra de diversos álbuns do parceiro Arnaldo Antunes, colaborou com artistas como Karina Buhr, Bárbara Eugênia e Marcelo Jeneci. Em 2009 lançou o projeto Pequeno Cidadão, voltado para o público infantil, e desde 1996 está na ativa com seu trabalho de “organoeletrorock” (como ele mesmo define) chamado BENZINA. Eleito pela revista Rolling Stone um dos 100 artistas mais importantes da história da MPB de todos os tempos, transita com total desenvoltura em todos os palcos sejam alternativos ou principais, como um operário do rock, a serviço de seu instrumento e de sua arte. Em 2020, lança o trabalho “Jogo das Semelhanças – Músicas de Celular”, composto e gravado durante a quarentena da Covid 19, entre março e setembro de 2020.
JOGO DAS SEMELHANÇAS – Edgard Scandurra
Faixas:
1- NENINHA (Edgard Scandurra)
2- MOROCCO (Edgard Scandurra)
3- DEVANEIO DOS 3 ERROS (Edgard Scandurra)
4- DOMINGO (Edgard Scandurra)
5- CONTENTE (Edgard Scandurra e Juliana R.)
6- AMIGO VIOLÃO (Edgard Scandurra)
7- SAMBA DO APRESSADO (Edgard Scandurra)
8- CRIANÇAS DE APHRODITE (Edgard Scandurra)
9- PACIÊNCIA E TOLERÂNCIA (Edgard Scandurra)
10- SEGUNDA-FEIRA (Edgard Scandurra)
11- TEMPUS INSIDIIS (Edgard Scandurra)
Com Informações: Assessoria de Imprensa Fernanda Couto